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Como lidar com a ansiedade (não só em tempos de pandemia)



Ansiedade, ato ou estado de preocupação constante com o futuro, com o por vir. Pré-ocupação, ou ocupação prévia, com intenção de previsão, de controle e de estabilidade. Assim é esse estado que tão bem conhecemos especialmente durante a pandemia que estamos vivendo. 


Ocupar-se previamente de algo tem um fundo instintivo de sobrevivência. Sobreviver em meio ao que ameaça a nossa vida, direta ou indiretamente nos leva a querer prever acontecimentos, como forma de proteção. Nosso corpo responde para lutar ou fugir, daí explicam-se comportamentos de paralisação diante da ansiedade ou de alerta demasiado. Nosso sono ganha uma outra cor, as vezes nos sonhos temos o sentimento de angústia e de medo. As vezes acordamos no meio da noite achando que estamos atrasados, ou que algo/alguém está nos caçando. Constantemente, colocamos a cabeça no travesseiro e não conseguimos dormir…são tantos pensamentos, tantos problemas e o que sobra é a urgência de resolução… você já sentiu isso? 


Pois é, esse é o estado que a maior parte dos brasileiros está vivenciando nos últimos meses, segundo um levantamento feito aqui no Brasil . Na pesquisa, sentimentos negativos como tristeza, nervosismo, raiva e preocupação prevalecem diante dos positivos marcados por esperança, disposição, tranquilidade e alegria. E não é pra menos, estamos , de fato, vivendo um momento muito desafiador e o que vem a tona é a nossa falta de intimidade com as nossas emoções representada pelas crises de ansiedade diariamente. Mas crise vem da palavra Krisis, representando distinção, mudança, separação, transformação…talvez possamos transformar nossa forma de lidar com essas emoções e com a nossa realidade, certo?


Emoções nos movem em direção aos nossos objetivos ou nos paralisam diante dos desafios. Como lidamos com elas faz grande diferença na nossa experiência cotidiana. Desde o início da pandemia venho sendo procurada por pessoas e empresas para trazer uma palavra e uma"receita mágica" (que não existe!) para resolver problemas relacionados a ansiedade. Eu, por ser neurocientista e trabalhar com meditação para manejo das emoções, ainda me surpreendo o quanto de desespero há diante das insatisfações e imprevisões da vida.


A verdade é que a vida é impermanente e nunca tivemos controle de absolutamente nada externo a nosso comportamento. Vivemos uma grande ilusão de que podemos executar tudo que planejamos no tempo que planejamos. O universo, sábio como é, entende que não sabemos lidar com o imprevisível e nos dá uma colher de sopa deixando tudo, a maior parte do tempo, acontecer em um tempo similar ao que queremos ou planejamos. Aí vem um momento como a pandemia de 2020 e nos coloca em um espaço de clareza diante da fragilidade e impermanência da vida. É um peso existencial que se mostra, não que surgiu de repente. Ele sempre existiu, mas escolhemos, mesmo que inconscientemente, não olhar pra isso…escolhemos controlar, pois isso nos traz conforto. 


Assim parece ser, de forma superficial, mas, te convido a uma reflexão comigo… é realmente o controle que pode te ajudar a lidar com desafios da vida? Você, pessoalmente, gosta de ser controlado? gosta que alguém chegue, com toda sua força e rigidez, e dite o que você tem que fazer? Pois bem, talvez sua ansiedade, essa emoção que está ai dentro de você, também não lide muito bem com essa rigidez e supressão que estamos tão acostumados a explorar. Explico melhor, ouço por ai muita gente falar em "controlar" ansiedade e estresse, em "controlar" as emoções para viver melhor. Eu resolvo caminhar por uma linha diferente… que tal você acolher esses sentimentos?


Calma, respira. 


Sim, acolher! 


Temos duas estratégias principais de regulação emocional: a supressão (quando não permitimos que uma emoção se manifeste) e a ressignificação (dar outro significado para além do negativo a um sentimento, estado ou situação). A minha proposta a reflexão aqui é que possamos ressignificar mais e suprimir menos.

Através do acolhimento, estabelecemos mais intimidade com nossas emoções. Aceitamos que elas estão ali, que fazem parte daquele momento. E tá tudo bem! não precisa ter medo do medo. Nem ter medo da ansiedade. Tudo isso foi construído por acordos que fizemos quando crianças e concluímos que essas emoções são ruins. Elas são tão importantes quanto a felicidade. Elas nos protegem e nos ensinam. Sim, ensinam! mas pra isso, você precisa olhar pra elas e perguntar: o que eu posso aprender com você?


Essa talvez seja a maior mudança que você pode fazer para lidar melhor com suas emoções…Se colocar na posição de aprendiz. Acolher, sentir, olhar e perguntar, com muito respeito, qual a lição de tudo isso que está vivendo. Quando você começar a adquirir essa postura diante de tudo, talvez surja uma compreensão de que a vida é uma grande escola..e que diante dos desafios, podemos ser alunos interessados e curiosos. 


Esse é o princípio da meditação: cultivar presença, curiosidade e abertura diante do vivido.


Te faço um convite e, na próxima visita do medo e da ansiedade, você olhar pra essas emoções/sentimentos com humildade e acolhimento. E perguntar: o que você tem pra me ensinar?


 
 
 

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por Geissy Araújo 2024

Neurocientista | Psicóloga Clínica CRP:17/7834 | Instrutora de Mindfulness

dra.geissy@gmail.com

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